Milton Nascimento tem demência por corpos de Lewy, revelou filho

Quando Milton Nascimento, cantor brasileiro recebeu o diagnóstico de demência por corpos de Lewy, o país inteiro ficou em silêncio ao mesmo tempo que se encheu de preocupação.
O anúncio foi feito pelo filho e empresário Augusto Nascimento em entrevista concedida à Revista Piauí na quinta‑feira, 2 de outubro de 2025, e confirmado pelo portal G1. A família deixou claro que não haverá mais declarações à imprensa sobre o assunto.
Milton, que tem 82 anos, já convivia com o diagnóstico de Doença de Parkinson desde 2022. Segundo Augusto, os primeiros sinais de declínio cognitivo surgiram no fim de 2023 e se intensificaram ao longo de 2025, coincidindo com a progressão do Parkinson.
Contexto histórico e médico
Os sintomas iniciais — lapsos de memória, olhar fixo, repetição de histórias e alterações no apetite — assustaram o filho, que rapidamente buscou auxílio médico. Em abril de 2025, Dr. Weverton Siqueira, clínico geral que acompanha Milton há dez anos, solicitou uma bateria de exames neurológicos. "Eu fiquei realmente alarmado com a deterioração cognitiva", disse o médico, que acabou confirmando o quadro de demência por corpos de Lewy (DCL).
A DCL, segunda forma mais comum de demência neurodegenerativa após a doença de Alzheimer, representa cerca de 10% dos casos de demência no mundo. Ela é causada pelo acúmulo de proteínas alfa‑sinucleína dentro dos neurônios, formando aglomerados que interferem na comunicação entre as células nervosas. Diferente do Alzheimer, não há marcadores claros em exames de imagem; o diagnóstico depende de avaliação clínica detalhada.
Detalhes do diagnóstico
Para que a DCL seja confirmada, o paciente deve apresentar declínio cognitivo associado a, pelo menos, dois dos sintomas característicos: flutuações na atenção, alucinações visuais e rigidez ou temblor típicos do Parkinson. Milton já exibia os três, o que facilitou a definição do quadro.
- Incidência global: ~10% de todas as demências.
- Idade média de início: entre 70 e 80 anos.
- Sem cura conhecida; tratamento focado em aliviar sintomas cognitivos e motores.
O tratamento indicado para Milton inclui uso de inibidores da colinesterase, ajustes na medicação antiparkinsoniana e terapias não‑farmacológicas como fisioterapia, terapia ocupacional e estímulos cognitivos.
Reação da família e a viagem dos EUA
Mesmo diante da gravidade, Augusto decidiu que o melhor seria viver o presente ao máximo. Em maio de 2025, pai e filho embarcaram em um motorhome e percorreram cerca de 4 000 quilômetros pelos Estados Unidos, desde a Califórnia até a costa leste. "Foi a melhor viagem da minha vida", confidenciou Milton durante a jornada.
O médico, antes de autorizar a viagem, questionou se seria prudente. "Se vão fazer, façam agora", respondeu Dr. Siqueira, lembrando que o desgaste cognitivo poderia impedir novas aventuras.
Augusto relembrou momentos emocionantes: "Ele falava menos, mas quando segurava minha mão ou insistia que eu comesse comigo, percebia o carinho que ainda há entre nós". Em post nas redes sociais, escreveu: "Eu te amo e sempre amarei, paizinho".

Impacto e perspectivas
O diagnóstico tem repercussões que vão além da saúde do artista. Milton é símbolo da música popular brasileira; sua vulnerabilidade lança luz sobre a falta de políticas públicas voltadas para o cuidado de idosos com demência. Até 2024, o Brasil ainda não dispõe de um plano nacional integrado para DCL, apesar de suas particularidades clínicas.
Especialistas apontam que a combinação de Parkinson e DCL demanda um manejo ainda mais cuidadoso, pois os medicamentos para um transtorno podem exacerbar sintomas do outro. "É preciso equilibrar a dopamina para não piorar as alucinações", explica a neurologista Dra. Carla Mendes, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O que vem a seguir
Milton continuará recebendo acompanhamento multidisciplinar. A família pretende manter a privacidade, mas já manifestou interesse em apoiar campanhas de conscientização sobre demência. "Se minha história puder ajudar alguém a buscar ajuda mais cedo, será um legado tão valioso quanto minhas canções", disse Augusto.
Os próximos passos incluem ajustes na medicação, sessões de terapia ocupacional três vezes por semana e, quem sabe, mais curtas escapadas com a família, desde que a saúde permita.
Perguntas Frequentes
Como a demência por corpos de Lewy afeta a qualidade de vida de Milton Nascimento?
A DCL combina déficits de memória semelhantes ao Alzheimer com sintomas motores do Parkinson, como tremores e rigidez. Para Milton, isso significa oscilações de atenção, alucinações visuais e dificuldade para coordenar movimentos ao cantar, exigindo suporte constante de cuidadores e adaptações no dia a dia.
Qual a diferença entre a demência por corpos de Lewy e o Alzheimer?
Embora ambas causem perda de memória, a DCL apresenta flutuações cognitivas marcantes e alucinações visuais, além de sintomas motores típicos do Parkinson. O Alzheimer costuma se manifestar de forma mais gradual e não tem essas oscilações nem a rigidez muscular.
Existe tratamento que cura a DCL?
Não há cura conhecida. O manejo foca em reduzir sintomas: medicamentos como inibidores da colinesterase para a memória, ajustes de levodopa para o Parkinson e terapias não‑farmacológicas (exercícios, terapia ocupacional, estimulação cognitiva).
Por que a família decidiu fazer a viagem de motorhome pelos EUA?
Augusto quis proporcionar ao pai momentos de liberdade e alegria antes que o declínio cognitivo se aprofundasse. O médico recomendou que, se a viagem fosse feita, fosse feita agora, pois a capacidade de lembrar e desfrutar poderia ser comprometida no futuro.
Como a sociedade pode apoiar pessoas com DCL como Milton?
Apoio vem de políticas públicas de saúde que garantam acesso a neurologistas, terapias ocupacionais e programas de apoio a cuidadores. Campanhas de conscientização, como as que a família pretende promover, também ajudam a reduzir o estigma e a identificar casos precocemente.
Willian Binder
outubro 3, 2025 AT 02:56É como se o próprio Olimpo tivesse diminuído seu brilho, mas ainda ecoa o peso de mil sinfonias. Milton, um Atlas dos acordes, agora carrega a névoa da demência como véu de mistério. Cada nota que ainda lhe resta ressoa como um lamento elegante, lembrando que a genialidade tem seu preço. A arte, afinal, não é imune ao tempo que tudo consome.